Essas poesias fazem parte da série A Semeadura:
A Semeadura
A vida da gente
é uma semeadura,
o campo semeado
é pura fartura,
cada qual almejado
em sua cultura.
Plantar, colher, acordar
quando o galo canta,
faz parte do cotidiano
da pessoa que planta,
a vida sempre evolui
e a horta se adianta.
No cérebro do arquiteto
foi jogada uma semente,
encontrou terra fértil
e uma voz dizendo: tente!
... uma planta nasceu
brotada na mente.
Os louros da vitória:
ver a construção erguida,
a plantação florou, o homem colheu,
na feira, ainda teve saída.
Melhor que isso é ter
força e fé na vida.
O Livro
Na mente poética
fervilha a palavra,
mãos operárias
fazem o livro
que chega ao leitor,
quando deixa de ser
tão-somente matéria
ao transformar-se
em alimento da alma.
Se o poeta semeia livros,
o gráfico prepara a terra
para a semente da mente
do poeta, enquanto o leitor
colhe os frutos da leitura.
Seis da Tarde
São seis horas da tarde!
Vou andando por aí;
na cabeça, lembranças
do que nunca esqueci.
Sonhos engavetados,
guardados no porão
dessa cabeça louca,
tão cheia de solidão.
Sigo pensando na vida,
descobrindo a razão;
a memória se aquece,
jardim que floresce,
luzes na escuridão.
Se Eu Fizer Uma Prece
O que acontece
Se eu fizer
Uma prece?
Até parece que eu
Só posso ser visto
Como um ateu.
Por não ir à igreja,
Dizem que não tenho
Um Deus que me proteja,
Por não ter partido,
Dizem que sou
Descomprometido,
Por fazer pouco,
Chegam a dizer
Que sou louco.
Quando faço bastante,
Ouço falarem:
Ele é tão distante!
Esperar ou ir à luta?
Melhor mesmo
Continuar a labuta.
A Planta
Molha a planta
Para o fruto crescer!
Molha a horta,
Molha a roça!
Se ninguém molhar,
Rezarei para chover.
Bom
Bom é estar
Em harmonia,
Sentir, respirar
Toda energia.
Manhã bem cedo
Ir para o roçado;
Em noite de luar,
Xote e xaxado.
Sapo na lagoa
A coachar, a coachar...
Todos numa boa:
Quá, quará, quá, quá.
Um Sem Terra
Como um sem terra
que quer a terra
para nela trabalhar,
um pobre poeta procura
mentes e corações
que o queiram escutar;
como a poesia sincera
que frutifica cabeças
e atinge o coração,
a semente jogada
transforma-se em alimento
para a população.
O Oleiro Cego
"O primeiro oleiro
foi Deus, quando
do barro fez o homem."
Palavras ditas
por um oleiro cego.
Do barro
o oleiro cego
fez sua obra
para que outros a vejam.
A Sede
Desde que fora capturada
no meio da caatinga
na terra do sol
não bebia
desde quando
a trouxeram prisioneira
mãos amarradas
pela vegetação agreste
passando por riachos
por cacimbas
Clara cora acuada
lembra de uma canção
do tempo de criança
que cantava quando ia
à fonte com a criançada
buscar o de beber
agora a sede
uma moringa cheia
sobre a mesa
depois de tanto andar
debaixo de um sol
abrasador
trovejava
interrogavam
interrogavam
nem mais coordenava
seus pensamentos
lembrava do que pensava ter esquecido
ou do que se esqueceu
recordações das brincadeiras dos meninos
a jogar água uns aos outros,
na cela, queria apenas um gole,
ao seu lado bebiam, molhavam-se
"há três dias
sempre a mesma
lenga-lenga"
sempre o mesmo recipiente
a água fresca negada
as perguntas
e Clara dizia:
"cumé qui num posso
falá de trabai?"
Do lado de fora sons
de trombetas e tambores
"O que você quer,
um pracatá ou um prequeté?"
"Ocê pode me dar um de beber?"
"Quer tchu ou quer tcha?"
"Tcha tcha tcha."
"Em quem vai votar?"
"Em Limpo?"
"Por que?"
"Pro mode qui parece ser pessoa digna."
Deixa-se cair
a moringa
o líquido escorre
percorre riacho
sobre o móvel
e pequenas cachoeiras
e banhos de rio
não voltara a casa de seus pais
era como se lá estivesse
lá fora na rua
bombas, fogos de artificio
nem era noite de São João
não havia certeza
há quanto tempo
morria de sede
num repente aparecem
os camaradas
sentiu molharem seu rosto
levantaram-na
na rua
comemoração
festa
gotas de chuva
Que blz poeta, parabéns, taí p/ vc a letra de uma das mínhas cantigas...
ResponderExcluirPaz luz e um grande abraço do cantador !!!
VEM VER
Clauber Martins
Sai dessa cabana e vem ver
Uma cachoeira de cristais
Numa aquarela de prazer
Quanta boniteza o sol nos traz
Anta, catitu, tamanduá
Jabuti, quati, maracajá
Rostos incrustados num pedral
No espelho d’água vêm se olhar
Vendo o verde desse matagal
Temperar o cheiro da manhã
Soltos no meio do castanhal
Eu sou curumim e tu cunhã
Não quero sentir tamanha dor
Deus me livre desse grande mal
De viver escravo do motor
Tendo que morrer na capital
Arte tum, tum, tum tambor que bate
Não quero mudar pra marte
Nem ver disco-voador
Basta se a vida imita a arte
Por quê transformar em mártir
Tanta paz e tanto amor...