terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Semeadura

Essas poesias fazem parte da série A Semeadura:

A Semeadura

A vida da gente
é uma semeadura,
o campo semeado
é pura fartura,
cada qual almejado 
em sua cultura.

Plantar, colher, acordar
quando o galo canta,
faz parte do cotidiano
da pessoa que planta,
a vida sempre evolui
e a horta se adianta.

No cérebro do arquiteto
foi jogada uma semente,
encontrou terra fértil
e uma voz dizendo: tente!
... uma planta nasceu
brotada na mente.

Os louros da vitória:
ver a construção erguida,
a plantação florou, o homem colheu,
na feira, ainda teve saída.
Melhor que isso é ter
força e fé na vida. 


O Livro

Na mente poética 
fervilha a palavra,
mãos operárias
fazem o livro

que chega ao leitor,
quando deixa de ser 
tão-somente matéria
ao transformar-se 
em alimento da alma.

Se o poeta semeia livros,
o gráfico prepara a terra
para a semente da mente
do poeta, enquanto o leitor
colhe os frutos da leitura.



Seis da Tarde

São seis horas da tarde!
Vou andando por aí;
na cabeça, lembranças
do que nunca esqueci.

Sonhos engavetados,
guardados no porão
dessa cabeça louca,
tão cheia de solidão.

Sigo pensando na vida,
descobrindo a razão;
a memória se aquece,
jardim que floresce,
luzes na escuridão.



Se Eu Fizer Uma Prece

O que acontece
Se eu fizer
Uma prece?

Até parece que eu
Só posso ser visto
Como um ateu.

Por não ir à igreja,
Dizem que não tenho
Um Deus que me proteja,

Por não ter partido,
Dizem que sou
Descomprometido,

Por fazer pouco,
Chegam a dizer
Que sou louco.

Quando faço bastante,
Ouço falarem:
Ele é tão distante!

Esperar ou ir à luta?
Melhor mesmo
Continuar a labuta.



A Planta

Molha a planta
Para o fruto crescer!
Molha a horta,
Molha a roça!
Se ninguém molhar, 
Rezarei para chover.



Bom

Bom é estar
Em harmonia,
Sentir, respirar
Toda energia.

Manhã bem cedo
Ir para o roçado;
Em noite de luar,
Xote e xaxado.

Sapo na lagoa
A coachar, a coachar...
Todos numa boa:
Quá, quará, quá, quá.



Um Sem Terra

Como um sem terra
que quer a terra 
para nela trabalhar,
um pobre poeta procura
mentes e corações
que o queiram escutar;

como a poesia sincera
que frutifica cabeças
e atinge o coração,
a semente jogada
transforma-se em alimento
para a população.


O Oleiro Cego

"O primeiro oleiro
foi Deus, quando
do barro fez o homem."
Palavras ditas
por um oleiro cego.

Do barro 
o oleiro cego
fez sua obra
para que outros a vejam.


A Sede

Desde que fora capturada
no meio da caatinga
na terra do sol
não bebia
desde quando
a trouxeram prisioneira

mãos amarradas
pela vegetação agreste
passando por riachos
por cacimbas

Clara cora acuada
lembra de uma canção
do tempo de criança
que cantava quando ia
à fonte com a criançada
buscar o de beber

agora a sede
uma moringa cheia
sobre a mesa
depois de tanto andar
debaixo de um sol
abrasador

trovejava
interrogavam
interrogavam
nem mais coordenava
seus pensamentos

lembrava do que pensava ter esquecido
ou do que se esqueceu
recordações das brincadeiras dos meninos
a jogar água uns aos outros,
na cela, queria apenas um gole,
ao seu lado bebiam, molhavam-se

"há três dias
sempre a mesma
lenga-lenga"

sempre o mesmo recipiente
a água fresca negada
as perguntas
e Clara dizia:
"cumé qui num posso
falá de trabai?"

Do lado de fora sons
de trombetas e tambores

"O que você quer,
um pracatá ou um prequeté?"

"Ocê pode me dar um de beber?"

"Quer tchu ou quer tcha?"

"Tcha tcha tcha." 

"Em quem vai votar?"

"Em Limpo?"

"Por que?"

"Pro mode qui parece ser pessoa digna."

Deixa-se cair
a moringa
o líquido escorre
percorre riacho
sobre o móvel
e pequenas cachoeiras
e banhos de rio
não voltara a casa de seus pais
era como se lá estivesse

lá fora na rua
bombas, fogos de artificio
nem era noite de São João
não havia certeza
há quanto tempo
morria de sede
num repente aparecem
os camaradas
sentiu molharem seu rosto
levantaram-na

na rua
comemoração
festa
gotas de chuva 



Um comentário:

  1. Que blz poeta, parabéns, taí p/ vc a letra de uma das mínhas cantigas...
    Paz luz e um grande abraço do cantador !!!

    VEM VER
    Clauber Martins

    Sai dessa cabana e vem ver
    Uma cachoeira de cristais
    Numa aquarela de prazer
    Quanta boniteza o sol nos traz
    Anta, catitu, tamanduá
    Jabuti, quati, maracajá
    Rostos incrustados num pedral
    No espelho d’água vêm se olhar

    Vendo o verde desse matagal
    Temperar o cheiro da manhã
    Soltos no meio do castanhal
    Eu sou curumim e tu cunhã
    Não quero sentir tamanha dor
    Deus me livre desse grande mal
    De viver escravo do motor
    Tendo que morrer na capital

    Arte tum, tum, tum tambor que bate
    Não quero mudar pra marte
    Nem ver disco-voador
    Basta se a vida imita a arte
    Por quê transformar em mártir
    Tanta paz e tanto amor...

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